Eu e a autora do Stuffing My Brain with Books trocamos de títulos constantemente e por vezes vou lá bater e perguntar "Vizinha, ó vizinha, recomenda alguma coisa?", ela falou-me do "The Undomestic Goddess" da Sophie Kinsella, chic-lit pura e dura, da autora do "Confessions of a Shopaholic", essa pérola da literatura. Mas apetecia-me um no-brainer, no fantasy, not enough depth (if any) e algo para me distrair e que me fizesse rir.
Chic-lit é um género literário completamente visto de lado no mundo dos livros, relegado ao seu papel de livro de praia com o equivalente nutricional de um Snickers, mas eu cá gosto bastante de Snickers, por isso não me faz espécie nenhuma ler um destes de quando em vez.
"The Undomestic Goddess" narra as aventuras de Samantha, uma advogada de sucesso prestes a dar um enorme salto na sua carreira (com nenhuma vida pessoal ou quaisquer interesses) que comete um erro básico e é despedida. Depois de uma série de desventuras, encontra-se no campo e é contratada como governanta/empregada doméstica de um casal de novos ricos que é tão denso que acredita que ela é uma profissional do mais alto calibre.
Note-se que para mim, o propósito deste livro era pura e simplesmente algumas horas de entretenimento onde, de preferência, não houvessem (muitos) insultos à minha inteligência. A sensação do livro é que a Sophie Kinsella tinha um possível filme em mente, as cenas mais memoráveis parecem clichés de uma comédia romântica, em que o vilão é previsível porque nunca poderia ser, o interesse romântico é um jardineiro entrepeneur que (surpresa das surpresas) tem malapata com advogados.
Ela passa de pato Donald na cozinha à beira de um ataque de nervos para uma Martha Stewart num fim de semana, acompanhada de uma metáfora existencial sobre a vida e o processo de fermentação do pão.
Tudo é incrivelmente previsível e a etapa final do livro desenrola-se como se o mesmo tivesse que ser entregue ao editor o quanto antes e não podia deixar pontas soltas.
Mas toda esta rapidez , o jardineiro jeitoso passa de traumatizado a um trauma que era mais piada que outra coisa e apenas um promotor de uma longa tarde de sexo versus uma rapidinha (não se pode ter as duas coisas, pergunto eu?) no jardim.
A mãe dele é apenas uma fada madrinha do lar que a ensina a fazer tudo em tempo record, o que me leva a pensar que a autora não deve cozinhar grande coisa e eu também não lhe daria roupa minha para tratar.
A relação dela com a melhor amiga mal é explorada, os problemas dela com a mãe servem apenas de pano de fundo justificativo para o seu comportamento quase patológico e os patrões, dois novos ricos que poderiam ter sido tão interessantes mas que mantém-se como caricaturas mal construídas.
Em suma, só se vos apetecer muito um livrinho de praia para esboçarem uns sorrisos caso contrário, escolham outra coisa qualquer. Podem ler a opinião da S. aqui.
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