Esta noite sonhei contigo, estávamos os dois a ver uma casa nova para ti em Paço d'Arcos, achei piada pelo sítio mas fiquei tão contente em ver-te, estás igual ao que guardo na minha memória, com o teu cabelo comprido e o som do teu riso que agora já me consigo recordar, não me lembro do que falámos mas senti-te bem, senti-te em paz e voltei às nossas conversas em que eu estava no cadeirão forrado a veludo e tu sentada na cama à meia luz a fumar um cigarro.
"Temos que decidir uma palavra passe", dizias tu, "para saberes que sou que estou a falar contigo" e eu adiei tanto por um estado de negação como se a aceitação fosse uma sentença acabámos por não decidir. Por um lado ainda bem, um dos meus defeitos é ser preguiçoso, talvez tenha que me esforçar por perceber qual a palavra chave e por outro sentir que a maior parte do tempo que passámos juntos foi sem a sombra da passagem sob as nossas cabeças, porque digam o que disserem pelo menos não nos entregámos ao desespero da perda.
Não vou mentir, fazes-me falta, sinto saudades de te telefonar e contar as minhas desventuras e ter-te como o equilíbrio da balança. Mas é só o egoísmo humano de se fixar nas experiências sensoriais, mas saber que estás bem e que continuas comigo é um passo em frente na minha aceitação que perdi a minha irmã e a Deusa ganhou mais uma guardiã.
Amo-te sempre e vem visitar-me mais vezes.
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