sexta-feira, 11 de janeiro de 2013
Chanel avant la crise
Ontem os deuses das redes sociais pediam o sangue de Pêpa (petit nom de Filipa) Xavier porque ela:
a) Tem uma pronúncia afectada de teor anasalado (vulgo tia in extremis)
b) Não tem um discurso coerente
c) Queria uma mala (ah fonética, o quanto te amo) Chanel de 2500€
d) Em consequência da alínea c) Pêpa não tem consciência da crise, consciência social e é um exemplo das "castas" sociais dos abastados versus os pobrezinhos
Pêpa, que alega no seu vídeo trabalhar na indústria da moda e estar muito contente com isso é uma fashion blogger portuguesa que (em conjunto com os outros blogues nacionais como a Stylista, This is reality, o Arrumadinho, a Pipoca mais doce, Cócó na Fralda, etc etc etc) goza de uma grande popularidade junto do grande público onde posta dia após dia wish lists, conjuntos, publicidade às marcas que a presenteiam e pouco mais num blogue que é tão desinteressantezinho (para mim) que só lá estive duas vezes e nunca lhe liguei nenhuma mas para quem segue os blogues que eu dei como exemplo sabe quem ela é e ódios de lado (porque os bloggers "famosos" também têm quem os odeie) nunca a população portuguesa online se tinha pronunciado como ontem.
A marca Samsung, através da equipa criativa liderada (se não estou em erro) por Tiago Miranda (também ele blogger, do This is Reality) decidiu fazer 5 vídeos de bloggers populares portugueses para exprimirem os seus desejos para 2013 cheia, mas CHEIA de product placement com grande enfoque nas máquinas fotográficas e nos tablets da marca.
Ninguém aqui tem a discernidade de uma criança de seis anos e percebe perfeitamente que a Samsung pretendia publicidade e o que pretendia era fazer chegar os seus produtos ao público daqueles cinco blogues, maioritariamente feminino e que por norma não compra gadgets e como marca conhece a Apple, o iPhone, os iPads e afins por questões de estética (e também de product placement), afinal até a Carrie Bradshaw tinha um Mac que até avaria e o namorado compra-lhe um novo.
Eu falo da minha experiência como leitor de beauty blogs (mais focados em maquilhagem e cosmética) e espectador de v-logs de maquilhagem onde somos inundados constantemente com sugestões de consumo não para malas Chanel de 2500€ mas se calhar para bases da Chanel que rondam os 40€ e não achamos nada disso assim tão alarmante. Acho alarmente por exemplo que a Lancôme tenha escolhido a Michelle Phan como estrela de vídeo porque a Michelle Phan é uma maquilhadora de medíocre a mediana e prefiro a minha querida Lisa Elridge que está (lá está) na Chanel.
As marcas perceberam-se do potencial dos bloggers e perceberam também que fica mais barato mimá-los com produtos e produtos do que pagar mais páginas de publicidade nas revistas. Isto não é novidade nenhuma e ainda que chegasse tarde a Portugal já cá canta e (à semelhança do resto do mundo) não veio enriquecer a blogaria portuguesa. O que antigamente poderiam ser opiniões estruturadas e honestas fruto de experiência com determinados produtos tornaram-se publicidade pura sem qualquer conteúdo para além do "Uau, é fantástico, comprem, eu adoro, não percebo como é que vivi até agora sem isto", em termos da cosmética as bloggers têm dificuldade em serem imparciais quando são mimadas com as novas colecções de maquilhagem gratuitas, festas em iates, jantares e tantas outras coisas cuja missão é "demos, agora vocês têm que gostar muito", isto parece que eu estou a divergir do tema Pêpa, mas é para enquadrar a opção da Samsung com estes vídeos.
Portugal decidiu em peso dizer a Pêpa é fútil, morte à Pêpa, sim inclusivé li quem dissesse para matarem a rapariga em vez do cão (da outra polémica nas redes sociais) e que achei de uma estupidez profunda.
Com isto, ressalvo que não gostei da campanha, não sigo nenhum dos blogues cujos autores apareceram (só tenho um blogue fútil e sigo-o para me lembrar que ele é mais fútil que eu e está na lista de blogues que eu sigo porque não tenho vergonha nenhuma), não acho a Pêpa inteligente nem acho que ela escreva grande coisa (porque não escreve) mas também não acho que o que foi despoletado ontem mereça o tempo de antena que teve.
Se eu acho que ter como objectivo pessoal a compra de uma mala Chanel de 2500€ é algo de mérito? Não, não acho, de forma alguma, não é esse o meu objectivo pessoal, leram? O meu, não é, não me faz sentido, além disso é uma mala de gaja, não me iria ficar bem.
Já leram a quantidade de beauty bloggers que escreveu sobre o desejo de ter a mala de que a Pêpa fala? Pois, não me parece. São todos fúteis? Epá, sim na verdade são, mas eles são beauty bloggers vão falar de quê? Cebolas? Caldos Knorr? Não, beauty bloggers e revistas de moda falam e vivem muitas vezes de coisas inatingíveis para a esmagadora maioria dos consumidores? Mas alguém apredejou o Brad Pitt por ser o rosto do Chanel Nº5? Ele não é uma mulher, ele não usa o perfume e ninguém precisa de perfume para sobreviver, que eu saiba. Mas alguém anda nas perfumarias a atirar pedras aos cremes da La Prairie que custam 400€ porque são uma afronta à realidade económica e social de Portugal? Que alguém gaste mais dinheiro num creme anti-rugas do que milhares têm como orçamento mensal para a alimentação de famílias de quatro pessoas? Não. Irá a Vogue Portugal começar a escrever sobre as últimas tendências nas lojas dos chineses face à realidade portuguesa? Não.
É tudo uma moralidade, e perdoem-me aqueles que se sentiram indignados pela Pêpa, de trazer por casa. Ontem li um artigo de um blogger de gadgets e tecnologia a dizer que aquela campanha podia ter sido brilhante (e deu imensas ideias) se feito por alguém de jeito (i.e. ele) mas esqueceu-se de que a Samsung já o tem a ele como consumidor e queria o público da Pêpa. Acho brilhante alguém que escreve sobre jogos falar sobre a afronta do consumo, que eu saiba há quem não tenha o dinheiro de um jogo por semana para comer? Mas alguém lhe atirou pedras, não.
É tudo uma questão de perspectivas, um jogo custa 50€, a mala é Chanel e custa 2500€. Li aqui que se ela percebesse fosse o que fosse de malas icónicas queria uma Birkin que custa X vezes mais mas acho que a Pêpa sabe que não consegue juntar tanto e fica-se pela Chanel. É uma rapariga, algo limitada na maneira como foi retratada, que fala sobre o sonho de dezenas de milhares de raparigas que têm um blogue de moda e dava a alma para ter as coisas que ela teve, viagens pagas por marcas, acessos a sneak peaks a coisas que só quem está na indústria é que conhece, esta é a realidade da Pêpa e de trocentas outras ocas que falam todos os dias sobre as coisas que as fariam felizes e que se traduzem só em consumo.
Eu posso não concordar com os ideais de sucesso que movem a Pêpa (e não concordo) mas aceito que ela pensa de forma diferente de mim, aceito que ela queira uma mala que custa mais do que eu ganho por mês, é só isso.
E para não me alongar mais neste tema, ela assumiu que o desejo era consumista, se o povo está ultrajado não é o povo que diz que quem diz a verdade não merece castigo? Eu, se quiser consciência social, a dura realidade que o nosso país atravessa não vou certamente buscá-la a campanhas publicitárias encabeçadas por bloggers de futilidades.
Podem ver o texto da Utena no blog "Os meus idealismos" para uma abordagem de outra blogger sobre este tema, a rigor da verdade eu é que fui cutucar a fera.
Esta cena foi uma palhaçada de todo o tamanho.. não fosse a maneira de falar da Pêpa e o desejo para 2013 que sobressaiu no video era comprar uma mala Chanel tinha passado completamente despercebido do público em geral. A Samsung ficou claramente a ganhar pela exposição, a Pêpa nem tanto (não acredito que o aumento de visitas ao blog compense este tipo de exposição)..
ResponderEliminarÉ como tu dizes, são as prioridades de cada um, Já dei 2700€ por um Macbook Pro e fui muito feliz com ele, apesar de 7 anos depois estar completamente obsoleto.. aposto que a mala da Chanel dura uma vida sem nunca perder o charme.
Mas confesso que a expressão "conquista pessoal" utilizada naqueles termos me causa alguma confusão.. mas hey, eu não percebo 70% das coisas que movem o meu género :D
Aquilo é fruto de edição quem sabe as outras coisas que ela disse para a gravação daquele vídeo e quem fez a edição as achou demasiado banais, porque o importante era focar a máquina fotográfica e ela a usar o tablet.
EliminarO português continua com a mentalidade pequena de promover sangue em temas que valem o que valem!
ResponderEliminarInfelizmente vai haver sempre quem aponte o dedo, esquecendo-se dos que ficam apontados para eles mesmos.
Beijo
É agir antes de pensar. ;)
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