sábado, 23 de novembro de 2013

Queima Rapaz Queima ou Fiorina, a Vaca

Quando tem que ser, tem muita força e se inicialmente achámos que visitar Calcata não nos ia permitir ver outras coisas perto de Roma, acabámos por lá ir parar graças aos imprevistos dos transportes da cidade.

Calcata é uma pequena aldeia na província de Viterbo, construída na montanha e rodeada de um verde lindíssimo. De longe parece perdida no tempo, quando lá chegamos é um pouco hippie chic, cheia de lojas de artesanato local que fazem parte das casas dos habitantes e podem ser visitadas sem quaisquer problemas.

As minhas costas naquele dia não queriam dar tréguas e a dada altura pedi aos meus companheiros de viagem para pararmos num café e encher-me de comprimidos.

Não sei de quem foi a escolha, cheira-me que foi minha, fomos parar ao café mais kitsch de Calcata e antes que pensem que foi pelo decor, foi mais a ardósia que tinha escrito "chocolate quente" que me fez entrar.



Não há palavras para descrever o Caffè Kafìr, o primeiro impacto foi a "decoração" que adornava cada centímetro cúbico do café, aquilo que inicialmente pensávamos ser de um extremo mau gosto depois começou a revelar-se temático, fotografias, posters, artigos de jornal recortados e emoldurados, todos sobre Gianni Macchia sempre super sensualão, com o típico corte de cabelo dos anos 70, quase sempre despido e em poses sugestivas.

























Nesta altura, depois de vermos o senhor integralmente por frente e por trás graças ao suporte visual, já só pensávamos em quem poderia ser, até que o A. se virou para o empregado e pergunta "Mas este Gianni Macchia, quem é?"
e o empregado apontou para alguém que só tinha o queixo em comum e diz-nos "É ele!", ficámos então a saber que este senhor do soft-core italiano dos anos setenta, impulsionado claramente pela popularidade de filmes como o Decameron de Pasolini, era agora o proprietário deste café/templo a si mesmo e acabámos por o conhecer, com a idade do meu pai, de aspecto decadente, cheio de botox em que so algumas partes do rosto é que mexe.




















O senhor Macchia foi simpaticíssimo, falou português abrasileirado connosco e o empregado/amigo/alegadamente namorado disse-nos que em Portugal se falava espanhol mas que também ele falava português que aprendeu no Brasil (ou num curso intensivo com Gianni, atrevo-me a dizer) e que de Roma a Portugal são umas três horas de comboio (bom saber) e tive que controlar os meus músculos faciais para não me rir, não tinha a quantidade abusiva de Botox do Gianni.

Entretanto quando fui à casa de banho, deparei-me com várias coisas incríveis, uma porta saída de Alice no Pais das Maravilhas que dava pelo meu peito, lá dentro um pitoresco sinal a dizer para puxar o autoclismo com jeitinho e de lado, uma pequena sala que não consigo descrever mas deixo cá uma foto.



Este foi sem dúvida o ponto alto da visita a Calcata e os quatro já combinámos um jantar com o tema "Gianni Macchia" para vermos um filme cheio de qualidade. Desde "Queima, Rapaz, Queima", "Fiorina, a Vaca", "O Garanhão", "Umas Férias de Massacre", toda uma panóplia de títulos para vermos a obra cinematográfica do Gianni.

Deixo-vos com fotos do Gianni, nos antigamentes, agora, o café, posters e afins para terem uma ideia melhor desta "ida ao café".

E pensar que eu só queria tomar um comprimido!

3 comentários:

  1. Muito giro!
    Faz crescer a saudade das viagens de Verão sem destino... sobretudo hoje que está cinzento e frio.

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    1. Obrigado. Hoje está horrível, nem ponho os pés lá fora.

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  2. Adoro encontrar estas coisas por mero acaso. Tanta decadência, também, mas que tem o seu encanto

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