Ora apetecia-me eu comer qualquer coisa depois de um regresso ao trabalho extenuante (leia-se, passei o dia cheio de sono e andei a arrastar-me e a entupir-me de comprimidos para a dor de cabeça) apeteceu-me chegar a casa e comer um petisco, ala que se faz tarde e fui alegremente ao supermercado, apeteciam-me boazinhas, assim daquelas de comer e chorar por mais, não havia (coisa estranha) e acabei por comprar uma lata de grão que pûs a assar. O grão, não a lata, note-se.
Piadas secas àparte, boazinhas já todos ouvimos falar, sim porque geralmente ouvimos falar, a boazinha é a ingenue do boca-em-boca porque ninguém é assim tão ingénuo e já dizia uma pessoa que eu conheço, a culpa nunca morre solteira.
Ora estava eu em casa (já com o grão no forno) e porque os deuses dão aos seus filhos o que eles querem para os castigar, tocava o meu telefone de alguém que me liga não para perguntar se eu estou bem, se preciso de alguma coisa ou então para dizer que tinha saudades de falar comigo, claro está ligou para pedir uma coisa e claro está, para me dar uma boazinha.
A conversa parecia tirada de uma telenovela circa early nineties "Olha, eu não sabia que se podiam enviar mensagens anónimas pelo telemóvel!", na minha cabeça começou logo a tocar a faixa do "Ah não, todas as pitas e mais algumas sabem fazer isso, mas pronto vá!" e depois passou alegremente para me contar a vida de uma pessoa que eu nunca vi mais gorda e que não sei até que ponto é que gostaria de ter a sua vida partilhada comigo (não fosse ela parar aqui) mas carga nisso, "ah e tal, é uma miúda, super boa miúda", e eu pensei "Hmmmm, boazinha, há tanto tempo, como é que ele sabia?" e continuou para o "Ela quis ajudá-lo, porque é boa miúda", e sim claro que é boa miúda senão não seria uma boazinha e não estaria neste momento a escrever isto "e ele é um desiquilibrado", e depois eu pensei "Mas porque é que as boazinha se metem sempre com estes fulanos?", mas não ficou por aqui porque como eu não estava suficientemente impressionado com o teor da história passou de desiquilibrado para "louco, atrasado, pé rapado, não tem nada", embora cá para mim eu pensasse "Bem, tem dinheiro para telemóvel, para o carregar de forma a poder enviar mensagens" e isto continua sempre com enormes colheradas de "miúda incrível, só queria ajudar, depois claro deu-lhe para trás" e se eu fizesse uma lista da história do início ao fim tinha acabado com pelo menos duas protagonistas (uma assim-assim, outra mais boazinha) e pelo menos três vilões.
A sério, alguém conhece assim uma que seja tão boazinha? Mesmo? Ou preciso de usar este adjectivo para justificar a estupidez de alguém que conhecem?
segunda-feira, 18 de junho de 2012
sábado, 16 de junho de 2012
Vamos cortar o cabelo
Quando eu decidi deixar crescer o cabelo convenceste-me a mudar de cabeleireiro, "o cabelo comprido dá muito mais trabalho, tem que estar sempre bem cortado", de dois em dois meses lá íamos, tu aproveitavas e cortavas umas pontas, havia sempre direito a dois dedos de conversa com as cabeleireiras e eu nunca aprendi a conduzir até lá sozinho, parecia anedótico mas até eu com o meu terrível sentido de orientação em tantos anos podia ter aprendido, mas era a nossa ida ao cabeleireiro que ambos detestávamos e que ambos sempre insistíamos em não nos secarem o cabelo com secador. Tu é que me desabituaste daquele vício horrendo que era lavar o cabelo todos os dias. Tu é que desabituaste de passar o tempo com o cabelo amarrado.
Quando ao fim de sete anos de cabelo comprido eu decidi cortar drasticamente, tu estavas lá comigo e escolhemos o corte juntos e toda a gente adorou.
Desde Fevereiro que não corto o cabelo, desde Abril que digo que tenho que o cortar e nunca mais o cortei.
Na terça-feira tinha escolhido um cabeleireiro novo, tinha marcado para as 17:30. Ao fim de quinze minutos à espera descobri que o stylist tinha a mãe no hospital e tinha saído a correr, respirei fundo e fui-me embora, entrei noutro, disseram-me que já não me conseguiam cortar o cabelo naquele dia, que tal na quinta-feira? Eu respondi não, fui tão seco que tenho a certeza que quem me ouvisse pela primeira vez acharia que eu era incrivelmente mal-educado.
Comi um gelado de duas bolas, pistachio e tarte de limão merengada, a tarte que me ensinaste a fazer ainda que eu tenha alterado a receita, apaixonei-me por aquela tarte porque ma fizeste.pela primeira vez, hoje toda a gente come a que eu faço com paixão e delira e eu partilho a história da cozinheira francesa de quem conseguiste a receita, um pouco de cada vez a vê-la às escondidas até que a Noemie gritava "Sortez de ma cuisine, fils de pute!" que a torna cada vez mais mágica.
A minha tarte de maçã nunca mais a voltei a fazer, tu eras a sua fã número um...
Voltei para casa, amuado e chorei porque nunca mais vens comigo cortar o cabelo, nunca mais me vais ajudar a escolher um corte, nunca mais me vais dar na cabeça porque já devia ter ido cortar as pontas, ou devia ter começado a tomar as vitaminas na Primavera, dei-te as minhas porque me esquecia sempre e tu adoravas o teu cabelo, nunca as conseguiste começar a tomar.
Dizem-me que o tempo tudo ajuda a superar, digo-me todos os dias que parte de ti está sempre comigo, mas todos os dias me lembro que perdi a minha irmã.
Quando ao fim de sete anos de cabelo comprido eu decidi cortar drasticamente, tu estavas lá comigo e escolhemos o corte juntos e toda a gente adorou.
Desde Fevereiro que não corto o cabelo, desde Abril que digo que tenho que o cortar e nunca mais o cortei.
Na terça-feira tinha escolhido um cabeleireiro novo, tinha marcado para as 17:30. Ao fim de quinze minutos à espera descobri que o stylist tinha a mãe no hospital e tinha saído a correr, respirei fundo e fui-me embora, entrei noutro, disseram-me que já não me conseguiam cortar o cabelo naquele dia, que tal na quinta-feira? Eu respondi não, fui tão seco que tenho a certeza que quem me ouvisse pela primeira vez acharia que eu era incrivelmente mal-educado.
Comi um gelado de duas bolas, pistachio e tarte de limão merengada, a tarte que me ensinaste a fazer ainda que eu tenha alterado a receita, apaixonei-me por aquela tarte porque ma fizeste.pela primeira vez, hoje toda a gente come a que eu faço com paixão e delira e eu partilho a história da cozinheira francesa de quem conseguiste a receita, um pouco de cada vez a vê-la às escondidas até que a Noemie gritava "Sortez de ma cuisine, fils de pute!" que a torna cada vez mais mágica.
A minha tarte de maçã nunca mais a voltei a fazer, tu eras a sua fã número um...
Voltei para casa, amuado e chorei porque nunca mais vens comigo cortar o cabelo, nunca mais me vais ajudar a escolher um corte, nunca mais me vais dar na cabeça porque já devia ter ido cortar as pontas, ou devia ter começado a tomar as vitaminas na Primavera, dei-te as minhas porque me esquecia sempre e tu adoravas o teu cabelo, nunca as conseguiste começar a tomar.
Dizem-me que o tempo tudo ajuda a superar, digo-me todos os dias que parte de ti está sempre comigo, mas todos os dias me lembro que perdi a minha irmã.
quinta-feira, 14 de junho de 2012
Entrevista de Verão, sem desafios
Num mundo mágico do Canal Panda onde os memes de internet são partilhados livremente, um jornalista que não existe quis perceber porque é que eu não sou um amante do verão.
J: O verão sempre foi uma altura mágica para as crianças, como era o verão na tua infância?
E: Na realidade eu do verão gostava apenas porque estava de férias. Era dividido entre a praia e Vila Nova de Cerveira, a terra dos meus avós paternos onde eu passava enormes secas e tinha que vir artilhado de distracções como bandas desenhadas, um vídeo e mais tarde a consola Megadrive. Recordo com carinho a minha ida a Paris com oito anos com o meu irmão de 17 mas que gostei porque não envolvia nem praia nem campo.
J: Se o verão fosse uma cor, qual seria?
E: As mesmas cores que me rodeiam sempre, o preto, o encarnado e o branco que são as minhas cores de eleição.
J: E o que é que nunca pode faltar?
E: Ar condicionado, especialmente porque raramente tiro férias no verão e trabalhar sem uma temperatura controlada levar-me-ia à loucura.
J: De forma sucinta, já que não és amante do verão, o que é que não suportas?
E: Em primeiro lugar, as interrupções nas minhas séries de televisão, sou um consumidor voraz de ficção televisiva e ainda que duas ou três séries que eu gosto sejam no verão como True Blood ou Drop Dead Diva, tudo o resto fica em hiato e sinto-me como um viciado a ressacar. Também detesto o calor, mas isso é mais do que óbvio.
J: Há algum segredo de verão que queiras revelar?
E: Relevante? Nem por isso, mas posso confessar que quando vou uma ou outra vez à praia até gosto mas raramente admito.
J: Qual é o calçado preferido do verão?
E: Os meus queridos sapatos pretos e clássicos, não gosto de sandálias, alpercatas e ténis só uso uma vez numa lua azul.
J: No Verão o que é que usas para saciar a tua sede?
E: O mesmo que no resto do ano, adoro água, sempre natural e sempre em doses abundantes. Mas uma sangria de champanhe com frutos vermelhos é excelente para partilhar com os amigos.
J: Quais as melhores festas, arraiais ou festivais de verão?
E: Não sei, temos que perguntar a alguém que vá a festas, arraiais ou festivais.
J: Qual é a tua dica para o cabelo perfeito de verão?
E: Lavá-lo. *risos* O mais provável é usar algo que eu possa apenas meter um pouco de espuma, passar com os dedos e seguir.
J: O que fazes numa manhã de verão?
E: Levanto-me, bebo o meu café com leite, demoro tempos infinitos a arranjar-me e vou trabalhar enquanto rogo pragas ao calor.
J: E nas tardes?
E: As tardes para mim no verão começam por volta das seis e meia, antes disso (e pressupondo que não estou a trabalhar) não combinem nada comigo, vou sempre arranjar uma desculpa maravilhosa para fazermos o mesmo mas mais tarde, gosto das esplanadas regadas de muita conversa.
J: E as noites?
E: Continuo alegremente a rogar pragas ao calor que não me deixa dormir e me irritar profundamente.
J: O que mais gostas de comer no verão?
E: Quando não é no verão é em todas as outras estações, adoro gelados, sejam tradicionais ou industriais adoro comer gelados desde que não sejam de chocolate que é sempre o último sabor do vento na arte da gelataria.
J: Há pouco confessavas que até não odiavas a praia assim tanto, qual a praia de eleição?
E: Nego tudo, mas numa remota hipótese confessaria que gosto das praias de Tróia.
J: E a tua toalha de praia?
E: Por norma é emprestada.
J: E o fato de banho, também é emprestado?
E: Não, esse é Calvino Klein e rosa choque que a grande maioria das pessoas acha que não existe mas que na realidade é a única cor que fica bem com o meu ar pálido e depois quando sou beijado pelo sol (a contragosto, porque amo a minha palidez) continua a ficar bem.
J: Já suspeito que não foram na praia, mas quais foram as tuas melhores férias de verão?
E: Não foram na praia, mas foram perto da praia, em San Diego na Califórnia onde fui assumir-me como um grande geek na Comicon, foi um sonho concretizado e onde guardo muitas memórias.
J: E esses amores de verão?
E: Agradeço como se aceitasse, mas nunca tive um grande amor de verão, os meus amores sempre percorreram as estacões todas.
J: E como passarias um dia no campo no verão?
E: Provavelmente com algo tecnológico que me fizesse abstrair de ser verão e de eu estar no campo.
J: Quais são as tuas leituras de verão?
E: São várias, agora estou a ler o "The Buddha in the Attic" da Julie Otsuka mas leio sempre o mais recente capítulo nas aventuras do Harry Dresden que é escrito pelo Jim Butcher e sai sempre no verão.
J: Tens algo estranho que tenhas visto num dia de verão?
E: Até tenho mais do que uma, mas a mais interessante foi uma mulher do Texas que estava no mesmo hotel que eu em Washington e primeiro começámos por manifestar o nosso desagrado por sermos tratados como leprosos porque fumávamos e acabámos a trocar receitas de pound cake. Ela loiríssima, com baton laranja e eu de cabelo comprido e eyeliner, parecíamos dois universos opostos a entrar em colisão. Foi estranho certamente para quem nos viu.
J: O verão para ti cheira a quê?
E: O verão para mim cheira sempre a Beyond Paradise da Estée Lauder, é o meu perfume de verão de eleição ou então XVIII La Lune de D&G.
J: E um som do verão?
E: As cigarras, de noite, que nunca me deixavam dormir quando ia para a terra dos meus avós.
J: Há pouco quando te perguntei pela comida no verão, julguei que ias responder com algum tipo de fruta. Há alguma que ames nesta altura?
E: Sim, a manga, sempre a manga, sumarenta e deliciosa ou o tomate comido como se fosse uma maçã.
J: Qual a escolha para óculos de sol?
E: São vintage (velhos em trendy) e Cartier mas estou sempre a esquecer-me deles em casa.
J: E uma sombra no verão?
E: Huh?! Não percebi.
J: Estamos a chegar ao fim, e uma paisagem no verão?
E: Eu sou um bicho da selva urbana, NYC ao entardecer, conheci-a no verão e hei-de sempre lembrar-me dela assim, no verão. Ainda que a prefira no inverno.
J: Tens alguma palavra que defina o verão ou este desafio?
E: O verão? Laguna, é o nome da cor do meu bronzer que uso esporadicamente. Este desafio fez lembrar as perguntas e respostas de um daqueles programas de início de tarde de fim-de-semana .
J: O verão sempre foi uma altura mágica para as crianças, como era o verão na tua infância?
E: Na realidade eu do verão gostava apenas porque estava de férias. Era dividido entre a praia e Vila Nova de Cerveira, a terra dos meus avós paternos onde eu passava enormes secas e tinha que vir artilhado de distracções como bandas desenhadas, um vídeo e mais tarde a consola Megadrive. Recordo com carinho a minha ida a Paris com oito anos com o meu irmão de 17 mas que gostei porque não envolvia nem praia nem campo.
J: Se o verão fosse uma cor, qual seria?
E: As mesmas cores que me rodeiam sempre, o preto, o encarnado e o branco que são as minhas cores de eleição.
J: E o que é que nunca pode faltar?
E: Ar condicionado, especialmente porque raramente tiro férias no verão e trabalhar sem uma temperatura controlada levar-me-ia à loucura.
J: De forma sucinta, já que não és amante do verão, o que é que não suportas?
E: Em primeiro lugar, as interrupções nas minhas séries de televisão, sou um consumidor voraz de ficção televisiva e ainda que duas ou três séries que eu gosto sejam no verão como True Blood ou Drop Dead Diva, tudo o resto fica em hiato e sinto-me como um viciado a ressacar. Também detesto o calor, mas isso é mais do que óbvio.
J: Há algum segredo de verão que queiras revelar?
E: Relevante? Nem por isso, mas posso confessar que quando vou uma ou outra vez à praia até gosto mas raramente admito.
J: Qual é o calçado preferido do verão?
E: Os meus queridos sapatos pretos e clássicos, não gosto de sandálias, alpercatas e ténis só uso uma vez numa lua azul.
J: No Verão o que é que usas para saciar a tua sede?
E: O mesmo que no resto do ano, adoro água, sempre natural e sempre em doses abundantes. Mas uma sangria de champanhe com frutos vermelhos é excelente para partilhar com os amigos.
J: Quais as melhores festas, arraiais ou festivais de verão?
E: Não sei, temos que perguntar a alguém que vá a festas, arraiais ou festivais.
J: Qual é a tua dica para o cabelo perfeito de verão?
E: Lavá-lo. *risos* O mais provável é usar algo que eu possa apenas meter um pouco de espuma, passar com os dedos e seguir.
J: O que fazes numa manhã de verão?
E: Levanto-me, bebo o meu café com leite, demoro tempos infinitos a arranjar-me e vou trabalhar enquanto rogo pragas ao calor.
J: E nas tardes?
E: As tardes para mim no verão começam por volta das seis e meia, antes disso (e pressupondo que não estou a trabalhar) não combinem nada comigo, vou sempre arranjar uma desculpa maravilhosa para fazermos o mesmo mas mais tarde, gosto das esplanadas regadas de muita conversa.
J: E as noites?
E: Continuo alegremente a rogar pragas ao calor que não me deixa dormir e me irritar profundamente.
J: O que mais gostas de comer no verão?
E: Quando não é no verão é em todas as outras estações, adoro gelados, sejam tradicionais ou industriais adoro comer gelados desde que não sejam de chocolate que é sempre o último sabor do vento na arte da gelataria.
J: Há pouco confessavas que até não odiavas a praia assim tanto, qual a praia de eleição?
E: Nego tudo, mas numa remota hipótese confessaria que gosto das praias de Tróia.
J: E a tua toalha de praia?
E: Por norma é emprestada.
J: E o fato de banho, também é emprestado?
E: Não, esse é Calvino Klein e rosa choque que a grande maioria das pessoas acha que não existe mas que na realidade é a única cor que fica bem com o meu ar pálido e depois quando sou beijado pelo sol (a contragosto, porque amo a minha palidez) continua a ficar bem.
J: Já suspeito que não foram na praia, mas quais foram as tuas melhores férias de verão?
E: Não foram na praia, mas foram perto da praia, em San Diego na Califórnia onde fui assumir-me como um grande geek na Comicon, foi um sonho concretizado e onde guardo muitas memórias.
J: E esses amores de verão?
E: Agradeço como se aceitasse, mas nunca tive um grande amor de verão, os meus amores sempre percorreram as estacões todas.
J: E como passarias um dia no campo no verão?
E: Provavelmente com algo tecnológico que me fizesse abstrair de ser verão e de eu estar no campo.
J: Quais são as tuas leituras de verão?
E: São várias, agora estou a ler o "The Buddha in the Attic" da Julie Otsuka mas leio sempre o mais recente capítulo nas aventuras do Harry Dresden que é escrito pelo Jim Butcher e sai sempre no verão.
J: Tens algo estranho que tenhas visto num dia de verão?
E: Até tenho mais do que uma, mas a mais interessante foi uma mulher do Texas que estava no mesmo hotel que eu em Washington e primeiro começámos por manifestar o nosso desagrado por sermos tratados como leprosos porque fumávamos e acabámos a trocar receitas de pound cake. Ela loiríssima, com baton laranja e eu de cabelo comprido e eyeliner, parecíamos dois universos opostos a entrar em colisão. Foi estranho certamente para quem nos viu.
J: O verão para ti cheira a quê?
E: O verão para mim cheira sempre a Beyond Paradise da Estée Lauder, é o meu perfume de verão de eleição ou então XVIII La Lune de D&G.
J: E um som do verão?
E: As cigarras, de noite, que nunca me deixavam dormir quando ia para a terra dos meus avós.
J: Há pouco quando te perguntei pela comida no verão, julguei que ias responder com algum tipo de fruta. Há alguma que ames nesta altura?
E: Sim, a manga, sempre a manga, sumarenta e deliciosa ou o tomate comido como se fosse uma maçã.
J: Qual a escolha para óculos de sol?
E: São vintage (velhos em trendy) e Cartier mas estou sempre a esquecer-me deles em casa.
J: E uma sombra no verão?
E: Huh?! Não percebi.
J: Estamos a chegar ao fim, e uma paisagem no verão?
E: Eu sou um bicho da selva urbana, NYC ao entardecer, conheci-a no verão e hei-de sempre lembrar-me dela assim, no verão. Ainda que a prefira no inverno.
J: Tens alguma palavra que defina o verão ou este desafio?
E: O verão? Laguna, é o nome da cor do meu bronzer que uso esporadicamente. Este desafio fez lembrar as perguntas e respostas de um daqueles programas de início de tarde de fim-de-semana .
sábado, 9 de junho de 2012
Is it weird that I hate Summer?
Os acontecimentos das últimas semanas fizeram com que a minha vontade de escrever fosse pouca (ou nenhuma) e antes de mais este post (cheira-me) é uma tentativa de voltar a escrever sobre coisa nenhuma numa tentativa de trazer a minha normalidade à tona para ver se não se afoga.
Há milhares de memes na internet com perguntas e afins (eu comecei um dos Sete Pecados da Beleza onde neste momento me estou a dedicar à preguiça) e na grande maioria das vezes, as pessoas encontram um que lhes serve como forma de desenferrujar a escrita e colocam nos seus blogues, alguns são vistos de uma forma mais séria como "Daring Bakers" ou "Baked Sunday Mornings" que implicam fazer alguma receita e publicar num dia específico, nunca me juntei a essas grupos porque... sou preguiçoso mas sigo-os e admiro a sua disciplina.
Há um que ainda pela blogaria portuguesa chamado "As Amantes do Verão" que para já eu aplaudo por seguir a filosofia da MAC (All Races, All Ages, All Sexes)... hmm, espera... "as"... crap. Aplaudo pela descriminação de género porque é preciso tê-los no sítio para excluir assumidamente (embora, as autoras não tenham nada fisicamente no sítio, por favor não me processem por calúnia, obrigado, não esperem, não quer dizer que não estejam em forma, apenas sublinho que tê-los se refere a genitália masculina... crap) mas juntam-se às hostes de blogues de tachos que começam os posts por "olá meninas" que não só aprecio por infantilizar o seu público como automaticamente me trocam o sexo, mas adiante: Este desafio tinha ao que me quis parecer regras específicas para inscrição e regras de publicação e eis que, algures alguém no mundo mágico da internet, não se inscreveu a tempo e horas e se assumiu como uma participante. Sim, verdade há gente mesquinha e má para tudo, para pegar em trinta perguntas e publicar, isto só mostra que a internet está cheia de gentinha cujo o único prazer é destruir os projectos dos outros... desculpem, eu deixei o botão do sarcasmo ligado.
Seguiu-se um acto tipicamente trollesco e internético em que uma das criadoras do desafio deixou em todos os posts da Cruella DeVille, perdão da autora não inscrita, com uma mensagem seca a dizer-lhe que não só ela não estava oficialmente inscrita como pediam que fizesse um disclaimer como se uma mensagem no repeat ou algo digno de um filme de terror asiático em que a dada altura um monstro saltaria do monitor assassinando a blogger incauta que se apropriou do desafio.
E eis que vem agora o meu disclaimer:
Não conheço nenhuma das autoras (criadoras ou a pérfida não inscrita) as minhas opiniões e conclusões basearam-me no que li online nos dois blogs, portanto antes de escreverem que não sei da missa a mitade, então publiquem-na, até lá mantenho-me assim.
Não sou uma amante do Verão por deficiência de género, peço que respeitem, o sexo masculino é uma condição deveras grave.
Já agora, também não sou um amante do Verão, é estação que não me seduz, sou e sempre serei um filho do Inverno.
Não estou inscrito no desafio, a data de inscrição era até dia 27 de Maio e eu optei por ver Mob Wives e distraí-me.
Vou responder às questões do desafio num post futuro em tom de entrevista parva para ironizar o facto de que não gosto do Verão e estou mortinho por Outubro.
As perguntas do desafio e as respectivas regras vêm daqui.
Não estão em pulgas com as minhas respostas, todo eu sou uma excitação mas agora vou tomar banho que se faz tarde.
segunda-feira, 14 de maio de 2012
Com texto mas sem contexto
Com o fim das temporadas televisivas, temos que arranjar algo para nos entreter, eu bem tentei macramê mas confesso que a minha dislexia assola-me e aquilo mais parece algo que veio dar à costa de um naufrágio do que propriamente algo onde eu possa pendurar um vaso.
Quando temos um blog onde optamos por partilhar pequenos momentos das nossas vidas, uma das vantagens é o feedback dos nossos leitores que podem ou não ser amigos mas que daquilo que vão conhecendo ou descobrindo podem sempre opinar na (bem ou mal?!?)dita caixa de comentários.
Entramos no mundo mágico da distorção em que podemos gritar LOBO! LOBO! Fulano tal foi mau para mim! E automaticamente temos as hostes a dizer "Gentinha pá, sem nada para fazer!" ou então a minha personal favorite "É tudo uma cambada de invejosas.", mas aqui o desafio é lerem três vezes o texto e pensarem bem: "Tenho aqui todos os elementos que me permitem fazer uma avaliação imparcial?", na maioria das vezes não temos, temos um descarregar de agruras e frustrações que são tecidas de forma a mostrarem o lado do pano que mais convém e sim, no mundo fantástico do online, se eu tiver dois dedos de testa eu consigo fazer com que a opinião dos outros vá de encontro ao que eu pretendo. Mas tem sumo? Não, apenas teço e volto a compor um belo ramalhete mito-maníaco onde um grupo de desconhecidos ergue as bandeiras em prol da minha cruzada, mesmo sem saber porque razão as estão a erguer, mas erguem (resta saber se por solidariedade real ou também eles um grupo de pessoas que nos passa a mão pelo pêlo num compromisso que na próxima vez que gritarem LOBO, também nós estaremos lá para eles.
Este tipo de comportamento agradeço como se aceitasse, vejo-o como um belo embrulho que demorou horas a fazer e que depois de aberto me mostra uma embalagem completamente vazia ou então água com sabores, que não é água, não é sumo, é qualquer coisa que posso beber naquele momento mas que não me satisfaz mas é melhor que nada.
Situações há em que todo aquele entrelaçar de estórias sem história poderiam ser desmistificadas num estalar de dedos, mas já que é tudo ad captandum vulgus, esperemos que o povo não se rebele quando vislumbrar o que está sob o véu. Eu já comprei uns saquinhos de pipocas.
domingo, 6 de maio de 2012
Pretensions d'Amour
Há cerca de um ano atrás abriu o Poison d'Amour no Príncipe Real, a alusão a Marie Antoinette, a trágica rainha da moda que entre várias tendências usou nabos como adereços na cabeça, foi os suficiente para me deixar intrigado.
Até aqui tudo parece uma daquelas minhas obsessões que se culminam rapidamente e eu sigo com a minha vidinha, mas a verdade é que a minha memória de peixe dourado faz com que eu adie e depois me esqueça e lembro-me em alturas em que é completamente impossível de concretizar, como por exemplo o duche, a meio de um dia no emprego e outras situações semelhantes.
Ontem foi o dia, decidimos dar lá um salto e eu fui ver o endereço na web enquanto me arranjava, lá está que fui ter a sítios em que a blogaria manifestava a sua opinião, ou adoravam ou detestavam, não encontrei nenhuma opinião morna em relação à casa de chá e pensei "Assimcumássim pelo menos as pessoas não lhe ficam indiferentes, isso por si só já diz qualquer coisa." e lá fui alegremente para um pequeno almoço à lá française ou então um pequeno almoço no imaginário daquilo que a opinião geral acha que é francês.
O décor é kitsch dentro do razoável, tudo pintado de azul cueca que só me fazia pensar na Tartine et Chocolat quando o meu sobrinho era um bébé e eu e mamãe comprávamos outfits porque é aquela idade em que vestir as crianças é um add-on muito popular, tipo nenuco mas com o factor random ligado.
A decoração extremamente barroca mas dentro de um contrato milénio não trazia qualquer sensação de amor ou calor, muito pelo contrario, desde o momento em que entrei fiquei com a profunda sensação de que tudo era incrivelmente estéril e com pouca alma.
Os doces eram um sonho, meticulosamente criados, tirados do filme da senhora Coppola e automaticamente nos transportavam para um ambiente de sonho longe da crueldade do mundo exterior.Ainda pensámos ficar no pequeno jardim (adorável por sinal) mas como não tinha algo que nos protegesse do sol acabamos por voltar ao interior e eis que começa a verdadeira experiência.O staff é maioritariamente masculino, nos seus vinte e poucos, bonitinhos mais confesso que o meu preconceito os achou ligeiramente vazios e não, não estive a discutir Kafka com eles, mas que venha o primeiro dizer que não elabora um primeiro retrato mental com base na primeira impressão e eu ofereço-lhe a bicicleta ferrugenta na qual eu nunca aprendi a andar.
Lá chegou e deu-nos a carta com imensas escolhas mas avisou logo que só o Pétit-Dejeuner Elegance, Energie e os Fruits de Mer é que estavam disponíveis. Eu prontamente agradeci ao chefe a inexistência de uma opção vegetariana, ele manteve-se em silêncio e eu admito que fiquei desiludido, pedi uma limonada, partilhei os ovos mexidos e algumas viennoiseries do Elegance e o meu coração derreteu um pedaço, a comida estava deliciosa e eu pensei que ainda haviam pétalas nestes espinhos.
Terminámos com um doce, comi o Montmartre, uma mousse de pistache com damasco confitado sobre uma base de biscuit e aqui já não fiquei tão deslumbrado, o damasco não estava lá a fazer grande coisa e o pistache tinha pouca intensidade.
No meio disto tudo, devo salientar que o atendimento é péssimo, parece que a função mais importar é estética e não funcional, são pouco afáveis, aliás são tão desligados do cliente que parecem sempre estar a fazer um enorme frete e se o objectivo era dar um ar de elite, apenas passam por desinteressados ou mal-educados, a minha primeira impressão de um ambiente estéril e frio manteve-se sempre presente e tenho dúvidas se lá vou voltar, não pude deixar de pensar no Baked em Brooklyn, com um décor completamente oposto, um staff afável onde podiam estar dois gulosos a devorar cupcakes e ao mesmo tempo dois homens de aspecto mais rough com duas taças de cafés e brownies.Falta alma ao Poison d'Amour, prefiro a qualidade da comida à do Eric Kayser, mas eu também gosto de ser bem atendido.
Até aqui tudo parece uma daquelas minhas obsessões que se culminam rapidamente e eu sigo com a minha vidinha, mas a verdade é que a minha memória de peixe dourado faz com que eu adie e depois me esqueça e lembro-me em alturas em que é completamente impossível de concretizar, como por exemplo o duche, a meio de um dia no emprego e outras situações semelhantes.
Ontem foi o dia, decidimos dar lá um salto e eu fui ver o endereço na web enquanto me arranjava, lá está que fui ter a sítios em que a blogaria manifestava a sua opinião, ou adoravam ou detestavam, não encontrei nenhuma opinião morna em relação à casa de chá e pensei "Assimcumássim pelo menos as pessoas não lhe ficam indiferentes, isso por si só já diz qualquer coisa." e lá fui alegremente para um pequeno almoço à lá française ou então um pequeno almoço no imaginário daquilo que a opinião geral acha que é francês.
O décor é kitsch dentro do razoável, tudo pintado de azul cueca que só me fazia pensar na Tartine et Chocolat quando o meu sobrinho era um bébé e eu e mamãe comprávamos outfits porque é aquela idade em que vestir as crianças é um add-on muito popular, tipo nenuco mas com o factor random ligado.
A decoração extremamente barroca mas dentro de um contrato milénio não trazia qualquer sensação de amor ou calor, muito pelo contrario, desde o momento em que entrei fiquei com a profunda sensação de que tudo era incrivelmente estéril e com pouca alma.
Os doces eram um sonho, meticulosamente criados, tirados do filme da senhora Coppola e automaticamente nos transportavam para um ambiente de sonho longe da crueldade do mundo exterior.Ainda pensámos ficar no pequeno jardim (adorável por sinal) mas como não tinha algo que nos protegesse do sol acabamos por voltar ao interior e eis que começa a verdadeira experiência.O staff é maioritariamente masculino, nos seus vinte e poucos, bonitinhos mais confesso que o meu preconceito os achou ligeiramente vazios e não, não estive a discutir Kafka com eles, mas que venha o primeiro dizer que não elabora um primeiro retrato mental com base na primeira impressão e eu ofereço-lhe a bicicleta ferrugenta na qual eu nunca aprendi a andar.
Lá chegou e deu-nos a carta com imensas escolhas mas avisou logo que só o Pétit-Dejeuner Elegance, Energie e os Fruits de Mer é que estavam disponíveis. Eu prontamente agradeci ao chefe a inexistência de uma opção vegetariana, ele manteve-se em silêncio e eu admito que fiquei desiludido, pedi uma limonada, partilhei os ovos mexidos e algumas viennoiseries do Elegance e o meu coração derreteu um pedaço, a comida estava deliciosa e eu pensei que ainda haviam pétalas nestes espinhos.
Terminámos com um doce, comi o Montmartre, uma mousse de pistache com damasco confitado sobre uma base de biscuit e aqui já não fiquei tão deslumbrado, o damasco não estava lá a fazer grande coisa e o pistache tinha pouca intensidade.
No meio disto tudo, devo salientar que o atendimento é péssimo, parece que a função mais importar é estética e não funcional, são pouco afáveis, aliás são tão desligados do cliente que parecem sempre estar a fazer um enorme frete e se o objectivo era dar um ar de elite, apenas passam por desinteressados ou mal-educados, a minha primeira impressão de um ambiente estéril e frio manteve-se sempre presente e tenho dúvidas se lá vou voltar, não pude deixar de pensar no Baked em Brooklyn, com um décor completamente oposto, um staff afável onde podiam estar dois gulosos a devorar cupcakes e ao mesmo tempo dois homens de aspecto mais rough com duas taças de cafés e brownies.Falta alma ao Poison d'Amour, prefiro a qualidade da comida à do Eric Kayser, mas eu também gosto de ser bem atendido.
segunda-feira, 30 de abril de 2012
Many Mãozinhas, o zombie da gelataria espanhola com nome italiano
Eu adoro gelados, qualquer ocasião é ocasião de comer um gelado e já agora porque eu sou uma caixinha de surpresas e vou-me revelando aqui a pouco e pouco (ai que foleiro, tenho que tirar depois) eu não gosto particularmente de gelado de chocolate, adoro brownies, ganache, fudge, bolo MAS gelado de chocolate... come-se (porque é gelado) e o meu sabor preferido é pistachio! Não acharam isto particularmente relevante? Não diz tudo e mais um par de botas sobre mim? Pensem bem, no vosso dia-a-dia quando comentarem um dos esporádicos posts e dizem "o Eolo", a outra pessoa responde entusiasticamente "Ah, aquele que não liga grande coisa a gelados de chocolate?" e terão horas de conversação sobre isto.
Hmm... não chega, é tipo pipoca, empty calories... (a minha grande revelação, não gelado) deixa pensar... AH AH! Já sei, eu não consigo dormir de meias por muito frio que tenha porque a minha avó me disse em criança que quem dormia de meias eram os mortos e inconscientemente sinto-me sempre desconfortável. Ainda não chega... hmm...
Tendo a Guerra Civil dos Estados Unidos, esta é uma história de amor e perda, de uma nação dividida mortalmente e as pessoas que a mudaram. É a história da bela e implacável... esquece... é a sinopse do "Gone With the Wind".
Voltando ao gelado, ontem estava naqueles dias em que me apetecia gelado depois de um chili vegetariano que fiquei sem perceber se pedi única e exclusivamente para auto-validar a qualidade da minha receita ou porque me apetecia chili, que já agoram não cabe na cabeça de ninguém servirem com arroz basmati. Depois do chili fui alegremente até à Rua da Prata para uma taça de gelado no Fragoletto, queria muito o Chai e Pistachio mas como a vida tem destas coisas a loja já estava fechada e teve que se decidir entre marcas de fabrico industrial, a Häagen-Dazs e a Farggi, que é carinhosamente apelidada de Giampy, mas como não é uma história minha, fica só o nome que eu acho adorável.
Como só tinha comido gelados na Farggi uma vez, nada como ir tirar a prova dos nove, o facto da Rua Augusta ser mesmo ao lado e me doerem os dedos dos pés não tem nada a ver com isso.
A Farggi tinha um ar estranhíssimo, parecia uma loja de uma estação de comboios com seis empregados e como eles não tinham embalagens isotérmicas ficou-se por lá. Uma coisa estranha (ou será que deveria dizer a primeira coisa estranha?!) foi o empregado de mesa ser o da esplanada, que tinha um protector chuva de plástico semi-transparente e que nunca o tirou, embora na próxima meia-hora nunca tenha saído e tinha um aspecto sinistro, ao olhar para ele assim de repente eu só pensava que era um assassino de um filme slasher, mas depois de observar melhor o seu ar exageradamente emagrecido pensei que tinha mais ar de zombie, a quem baptizei de Many Mãozinhas, o Many parecia querer não o meu cérebro (também não engordava muito coitadinho) mas sim a minha mesa, a quem alegremente entregou um menú em inglês mesmo depois de eu falar português com ele (este meu ar de americano não me larga) e deixou-me para escolher.
Fiquei-me por tartufo (sim eu sei que disse que não gostava de gelados de chocolate, mas este leva café) e praliné e noz pecã regado com caramelo, eu acho que se ao fazer o meu pedido ao Many se tivesse reduzido o sabor do meu gelado a uma palavra tinha tido mais sucesso, porque ele introduzia os códigos no seu POS enquanto consultava a cábula e rosnava às outras colegas que também queriam, mas depois voltou mais duas vezes para perguntar "Tartufo e...", ao que eu respondia "Praliné e noz pecã..." e depois lá voltava, passando-me a mão pelo ombro não de uma forma com alguma intenção menos elegante mas que pertence à classe de pessoas que fala connosco e que constantemente sente uma necessidade compulsiva de nos tocar.
O facto de ter passado uma altura da minha vida atrás de um balcão faz com que eu seja um pouco crítico à gestão de espaços comerciais, eram seis empregados, três atrás de um balcão que pareciam estar a jogar aos carrinhos de choque, um desaparecia e aparecia tipo Houdini e os dois restantes que serviam as duas mesas lutavam pela cábula dos códigos, cá entre nós se calhar (mas só se calhar) era mais fácil se houvessem duas e então não tinham que andar a tirar o livro das mãos um do outro de uma forma que a certo achei que iria dar em confronto físico.
O Many também era um pouco demasiado honesto para o seu próprio bem, quando foi pedido um waffle com gelado, insistiu que tinha que levar açúcar em pó e canela, não percebo a obsessão lusa de encher tudo com canela (será que é uma obsessão lusa considerando que é um franchise espanhol?) e que faria sentido se o waffle fosse simples, mas com uma bola de gelado em cima e regado com chocolate de leite derretido, convenhamos, a canela não está lá a fazer nada a não ser a confundir o palato.
Enquanto se argumentava com o Many para tirar a canela ele vira-se e diz "Ah, mas sem canela não sabe a nada!" (logo aqui fiquei extasiado, e eu que pensava que sabia a waffle) e lá acabou que vir com a canela e no final da noite, não estava mesmo a fazer lá nada. Acabei a noite a imaginar que o Many matava as suas vítimas e usava aquele protector para não se sujar com o sangue, mas isso se calhar foi o copo de fragolino que bebi antes de dormir.
A Giampy soube-me a pouco, não era mau, mas também não era algo que quisesse voltar lá no dia seguinte (ah, Crack Pie tenho tantas saudades tuas...) e acho que para a próxima vou-me ficar pela de nome falso pseudo-dinamarquês, que ainda sendo industrial nunca me desilude.
Hmm... não chega, é tipo pipoca, empty calories... (a minha grande revelação, não gelado) deixa pensar... AH AH! Já sei, eu não consigo dormir de meias por muito frio que tenha porque a minha avó me disse em criança que quem dormia de meias eram os mortos e inconscientemente sinto-me sempre desconfortável. Ainda não chega... hmm...
Tendo a Guerra Civil dos Estados Unidos, esta é uma história de amor e perda, de uma nação dividida mortalmente e as pessoas que a mudaram. É a história da bela e implacável... esquece... é a sinopse do "Gone With the Wind".
Voltando ao gelado, ontem estava naqueles dias em que me apetecia gelado depois de um chili vegetariano que fiquei sem perceber se pedi única e exclusivamente para auto-validar a qualidade da minha receita ou porque me apetecia chili, que já agoram não cabe na cabeça de ninguém servirem com arroz basmati. Depois do chili fui alegremente até à Rua da Prata para uma taça de gelado no Fragoletto, queria muito o Chai e Pistachio mas como a vida tem destas coisas a loja já estava fechada e teve que se decidir entre marcas de fabrico industrial, a Häagen-Dazs e a Farggi, que é carinhosamente apelidada de Giampy, mas como não é uma história minha, fica só o nome que eu acho adorável.
Como só tinha comido gelados na Farggi uma vez, nada como ir tirar a prova dos nove, o facto da Rua Augusta ser mesmo ao lado e me doerem os dedos dos pés não tem nada a ver com isso.
A Farggi tinha um ar estranhíssimo, parecia uma loja de uma estação de comboios com seis empregados e como eles não tinham embalagens isotérmicas ficou-se por lá. Uma coisa estranha (ou será que deveria dizer a primeira coisa estranha?!) foi o empregado de mesa ser o da esplanada, que tinha um protector chuva de plástico semi-transparente e que nunca o tirou, embora na próxima meia-hora nunca tenha saído e tinha um aspecto sinistro, ao olhar para ele assim de repente eu só pensava que era um assassino de um filme slasher, mas depois de observar melhor o seu ar exageradamente emagrecido pensei que tinha mais ar de zombie, a quem baptizei de Many Mãozinhas, o Many parecia querer não o meu cérebro (também não engordava muito coitadinho) mas sim a minha mesa, a quem alegremente entregou um menú em inglês mesmo depois de eu falar português com ele (este meu ar de americano não me larga) e deixou-me para escolher.
Fiquei-me por tartufo (sim eu sei que disse que não gostava de gelados de chocolate, mas este leva café) e praliné e noz pecã regado com caramelo, eu acho que se ao fazer o meu pedido ao Many se tivesse reduzido o sabor do meu gelado a uma palavra tinha tido mais sucesso, porque ele introduzia os códigos no seu POS enquanto consultava a cábula e rosnava às outras colegas que também queriam, mas depois voltou mais duas vezes para perguntar "Tartufo e...", ao que eu respondia "Praliné e noz pecã..." e depois lá voltava, passando-me a mão pelo ombro não de uma forma com alguma intenção menos elegante mas que pertence à classe de pessoas que fala connosco e que constantemente sente uma necessidade compulsiva de nos tocar.
O facto de ter passado uma altura da minha vida atrás de um balcão faz com que eu seja um pouco crítico à gestão de espaços comerciais, eram seis empregados, três atrás de um balcão que pareciam estar a jogar aos carrinhos de choque, um desaparecia e aparecia tipo Houdini e os dois restantes que serviam as duas mesas lutavam pela cábula dos códigos, cá entre nós se calhar (mas só se calhar) era mais fácil se houvessem duas e então não tinham que andar a tirar o livro das mãos um do outro de uma forma que a certo achei que iria dar em confronto físico.
O Many também era um pouco demasiado honesto para o seu próprio bem, quando foi pedido um waffle com gelado, insistiu que tinha que levar açúcar em pó e canela, não percebo a obsessão lusa de encher tudo com canela (será que é uma obsessão lusa considerando que é um franchise espanhol?) e que faria sentido se o waffle fosse simples, mas com uma bola de gelado em cima e regado com chocolate de leite derretido, convenhamos, a canela não está lá a fazer nada a não ser a confundir o palato.
Enquanto se argumentava com o Many para tirar a canela ele vira-se e diz "Ah, mas sem canela não sabe a nada!" (logo aqui fiquei extasiado, e eu que pensava que sabia a waffle) e lá acabou que vir com a canela e no final da noite, não estava mesmo a fazer lá nada. Acabei a noite a imaginar que o Many matava as suas vítimas e usava aquele protector para não se sujar com o sangue, mas isso se calhar foi o copo de fragolino que bebi antes de dormir.
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