domingo, 6 de maio de 2012

Pretensions d'Amour

Há cerca de um ano atrás abriu o Poison d'Amour no Príncipe Real, a alusão a Marie Antoinette, a trágica rainha da moda que entre várias tendências usou nabos como adereços na cabeça, foi os suficiente para me deixar intrigado.

Até aqui tudo parece uma daquelas minhas obsessões que se culminam rapidamente e eu sigo com a minha vidinha, mas a verdade é que a minha memória de peixe dourado faz com que eu adie e depois me esqueça e lembro-me em alturas em que é completamente impossível de concretizar, como por exemplo o duche, a meio de um dia no emprego e outras situações semelhantes.

Ontem foi o dia, decidimos dar lá um salto e eu fui ver o endereço na web enquanto me arranjava, lá está que fui ter a sítios em que a blogaria manifestava a sua opinião, ou adoravam ou detestavam, não encontrei nenhuma opinião morna em relação à casa de chá e pensei "Assimcumássim pelo menos as pessoas não lhe ficam indiferentes, isso por si só já diz qualquer coisa." e lá fui alegremente para um pequeno almoço à lá française ou então um pequeno almoço no imaginário daquilo que a opinião geral acha que é francês.

O décor é kitsch dentro do razoável, tudo pintado de azul cueca que só me fazia pensar na Tartine et Chocolat quando o meu sobrinho era um bébé e eu e mamãe comprávamos outfits porque é aquela idade em que vestir as crianças é um add-on muito popular, tipo nenuco mas com o factor random ligado.

A decoração extremamente barroca mas dentro de um contrato milénio não trazia qualquer sensação de amor ou calor, muito pelo contrario, desde o momento em que entrei fiquei com a profunda sensação de que tudo era incrivelmente estéril e com pouca alma.

Os doces eram um sonho, meticulosamente criados, tirados do filme da senhora Coppola e automaticamente nos transportavam para um ambiente de sonho longe da crueldade do mundo exterior.Ainda pensámos ficar no pequeno jardim (adorável por sinal) mas como não tinha algo que nos protegesse do sol acabamos por voltar ao interior e eis que começa a verdadeira experiência.O staff é maioritariamente masculino, nos seus vinte e poucos, bonitinhos mais confesso que o meu preconceito os achou ligeiramente vazios e não, não estive a discutir Kafka com eles, mas que venha o primeiro dizer que não elabora um primeiro retrato mental com base na primeira impressão e eu ofereço-lhe a bicicleta ferrugenta na qual eu nunca aprendi a andar.

Lá chegou e deu-nos a carta com imensas escolhas mas avisou logo que só o Pétit-Dejeuner Elegance, Energie e os Fruits de Mer é que estavam disponíveis. Eu prontamente agradeci ao chefe a inexistência de uma opção vegetariana, ele manteve-se em silêncio e eu admito que fiquei desiludido, pedi uma limonada, partilhei os ovos mexidos e algumas viennoiseries do Elegance e o meu coração derreteu um pedaço, a comida estava deliciosa e eu pensei que ainda haviam pétalas nestes espinhos.

Terminámos com um doce, comi o Montmartre, uma mousse de pistache com damasco confitado sobre uma base de biscuit e aqui já não fiquei tão deslumbrado, o damasco não estava lá a fazer grande coisa e o pistache tinha pouca intensidade.

No meio disto tudo, devo salientar que o atendimento é péssimo, parece que a função mais importar é estética e não funcional, são pouco afáveis, aliás são tão desligados do cliente que parecem sempre estar a fazer um enorme frete e se o objectivo era dar um ar de elite, apenas passam por desinteressados ou mal-educados, a minha primeira impressão de um ambiente estéril e frio manteve-se sempre presente e tenho dúvidas se lá vou voltar, não pude deixar de pensar no Baked em Brooklyn, com um décor completamente oposto, um staff afável onde podiam estar dois gulosos a devorar cupcakes e ao mesmo tempo dois homens de aspecto mais rough com duas taças de cafés e brownies.Falta alma ao Poison d'Amour, prefiro a qualidade da comida à do Eric Kayser, mas eu também gosto de ser bem atendido.

6 comentários:

  1. Então e, vale a pena lá ir ou nem por isso?

    Este sábado fui ao American Great Disaster no marquês. E se da primeira vez fiquei a achar o sítio engraçado, com a sua imitação de dinner dos anos 50, deta vez a qualidade do serviço (ou a falta dela) deixou-me verdadeiramente irritada!
    Eu que nunca fui de reclamar muito pensei seriamente em fazer a minha estreia no livro de reclamações. Consegui não o fazer... mas provavelmente os sites da lifeccoler e do FB do dito não vão escapar à minha ira.

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  2. Vale sim, o serviço não é tão mau como descreveste no Great American Disaster, mas não é nada de brilhante, vale a comida.

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