quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Bleu Noir

A penúltima vez que nos vimos estavas relegada à cozinha, fazias um tacho enorme de arroz doce para a festa de dezoito anos dele, os teus netos eram unânimes quando diziam que o arroz doce da avó era o melhor.

Tentaste ensinar-me, não aprendi, assim mantém-se teu para sempre na memória de todos.

Quando te vi pela última vez não deixei de projectar o que vivi com ela, o corpo mais débil, a vontade de lutar que se desvanece, a tez amarelada e uma aura de fragilidade.

Não eras a minha mãe, mas eras dele e independentemente das nossas diferenças creio que a dor da perda de uma mãe, ainda que "natural", deixa uma mágoa eterna que se aprende a lidar com o tempo. Podias ter sido madrasta comigo mas nunca foste, foste sempre carinhosa, com um elogio a dizer e gostavas de mexer nos meus cabelos e achava-os sempre demasiado compridos, tinhas razão, a dada altura estiveram demasiado compridos e ontem, sem saber cortei-os.

Beijinhos A., que a Deusa te leve no seu abraço e te dê o meu amor.

9 comentários:

  1. o arroz doce é sempre melhor feito pelas mulheres que amamos. o da minha avó era único. nunca mais provei outro igual. e já lá vão quase 30 anos...
    não ser de sangue é o menos importante. sofremos sempre quando perdemos alguém que gostamos muito.

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    1. Da minha irmã ficou a tarte de limão, da mãe do meu irmão o arroz doce, quando for a vez da minha mãe ficarão as filhoses de abóbora.

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  2. Lamento muito a perda e nada do que eu possa dizer alivia a dor, eu sei. Apenas desejo que superes esta falta com a alegria que a sua recordação te possa proporcionar. Beijinhos.

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