quinta-feira, 18 de junho de 2015

A liberdade do próximo

Há coisas que me fazem confusão, mesmo muita confusão.

Estamos em 2015, a maioria dos jovens adultos quase sempre teve acesso à internet a um mundo inteiro de informação que os esclarece e solidifica os alicerces do meu futuro.

Fazem-me confusão pessoas jovens, supostamente educadas e horizontes alargados, dizerem que o feminismo é uma idiotice (se forem mulheres ainda me faz mais confusão), faz-me confusão jovens que fazem slut shaming e criticam pessoas que optam por ter vários parceiros sexuais numa situação consensual, um homem heterossexual com muitas parceiras sexuais é um garanhão, uma mulher com muitos parceiros sexuais é puta, uma pessoa LGBT com muitos parceiros sexuais é promíscuo e tem comportamentos de risco e dá má cara à comunidade LGBT.

Esta juventude que dá de barato a liberdade conquistada a ferro e fogo por aqueles que vieram décadas antes e ousarem ir contra a norma, esta juventude nascida no final da década da oitenta ou depois que diz que estaríamos melhor sob a doutrina de Salazar, esta juventude que ridiculariza as tentativas de dar direitos iguais a todos, porque é ridículo e porque temos de ter noção do ridículo, afinal de contas as feministas são todas camionistas, não se depilam, não usam soutien e querem ser homens.

Não percebem que as mulheres continuam a ser objectificadas, reduzidas a pedaços de carne em campanhas publicitárias, não percebem que as mulheres ganham menos que os homens a fazer a mesma função, ficam em risco de perder o emprego se engravidarem. Acharem que estamos em pé de igualdade nos dias de hoje é ver a vida com óculos cor-de-rosa que eu já perdi há muito tempo.

33 comentários:

  1. O problema é que ter acesso fácil a informação não significa que se saiba analisa-lá. Ou sequer pensar sobre ela.

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  2. O feminismo não é idiotice nenhuma. Pelo contrário. Há uma enorme disparidade entre o homem e a mulher a nível da remuneração, por exemplo. Em matéria de trabalho, ainda há discriminação. Se adicionarmos o factor maternidade, tudo se agrava.

    E não poderia concordar mais com o velho estereótipo do garanhão vs slut. Antigo e nojento.

    As legislações tendem a banir as discriminações nos ordenamentos jurídicos, mas estas persistem, informalmente, junto da população. São precisas décadas e décadas de mudanças estruturais. Não acredites que é em quarenta anos de democracia, num país que teve uma ditadura tão longeva e sempre foi periférico e agrário, que as coisas mudam.

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    1. Mark, as mentes mudam desde que queiram. Eu não tenho a mesma ideologia política dos meus pais, não tenho a mesma opinião deles sobre o mesmo assunto.

      As pessoas mudam se quiserem mudar, se quiserem ver, o meu problema é esta falta de visão que vejo em redes sociais, em blogs em que ridicularizam coisas pelas quais a luta ainda continua e está longe de ser vencida de pessoas privilegiadas e banalizam os outros que lutam por direitos iguais porque no canto deles está tudo bem e nunca sofreram com isso.

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    2. Eolo, nada muda tão facilmente. Concordo com as palavras da Margarida.

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    3. Não mudar facilmente e não mudar são coisas diferentes Mark.

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    4. Já vai mudando! Até eu percebo essas mudanças. Noto uma maior abertura do que quando tinha oito, nove, dez anos. Em relação à homossexualidade, por exemplo. Imagino a diferença abissal em relação aos anos '70 e '80!

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    5. Pois, exacto, por isso é que é preciso visibilidade e marchas e cenas para percebemos que "we're here, we're queer, get used to it."

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  3. não, as mentes não mudam assim tão fácil. tu mudaste, mas na sua grande maioria as jovens heterossexuais mantém-se no seu mundo, muito conservador, namorar, casar, filhos bem nos colégios católicos. e isso perpetua-se nos filhos. sim, há excepções,mas tradicionalmente, esses e essas jovens votam direita ou centro-católico. e não é por existir liberdade e redes sociais que isso irá mudar. portugal é, por tradição, um país conservador.
    mas é vê-los no avante como povo uma vez por ano e serem camaradas. pois, pois...

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    1. Margarida, a minha família é conservadora, mudei porque sou desviante talvez. E quanto ao Avante é para fumar umas brocas e beber umas jolas.

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  4. Tal como o Ricardo referiu, e bem, o problema está em saber processar a informação...

    E eu devo ser uma das "que dá má cara à comunidade LGBT", but who cares? Não é por causa de meia dúzia de gatos pingados que irei mudar a minha maneira de ser...

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    1. Sam, do que te leio és alguém que assume o seu gosto pelo sexo sem necessidade de pedir desculpa, queres construir o teu pilódromo e o resto que se lixe, não vejo qual é o problema nem vejo porque é que dás má cara à comunidade, acredito que as tuas aventuras são consensuais.

      O problema é serem mais do que meia dúzia de gatos pingados porque a própria comunidade se autocritica e bastante, seja pela promiscuidade, aspecto físico, ser efeminado ou straight acting.

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    2. E aí é que está o problema: a própria comunidade ser a primeira a realizar actor discriminatórios. Faz algum sentido? Claro que não. Isso sim, entristece-me bastante!

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    3. E FYI, ainda que eu seja eternamente uma Carrie não tenho problema nenhum com Samanthas quando elas são honestas com e sobre elas próprias, parte do charme vem daí.

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    4. A comunidade discrimina aspecto, idade, forma física, comportamento, etc etc etc etc...

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    5. e a marcha lgbt? há muitos homossexuais que não se identificam. acham que é um show de travekas e por aí e se os homossexuais querem ser reconhecidos como os outros têm de se comportar 'normalmente'. mas é graças à marcha lgbt e a manifestações e a eventos como os beijaços que o casamento gay foi aprovado. a adopção também o será, é esperar. engraçado, se não fossem a comunidade lgbt activa e 'espampanante' nada disso tinha acontecido. e viva a conchita!
      'normal'? os normais vivem a ansioliticos.
      o Francisco é que tem razão.

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    6. Margarida, começamos por Stonewall em que foi uma drag queen que se revoltou contra as atitudes da polícia, lê o meu último comentário ao Mark que vês que estou de acordo contigo.

      Também sou pro-Conchita e uma série de coisas de cultura queer Margarida.

      Quando à normalidade é um conceito que não existe.

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    7. Gosto da Carrie, mas amo a Samantha. Apesar de no meu blog reservar-me ao anonimato e por razões óbvias, na vida real sou tal e qual como escrevo e os meus amigos sabem-no. Nunca me identifiquei com estereótipos e pré-conceitos. E na "nossa" comunidade há imensos. Dizemos ser tão liberais e no fundo nem sabemos o significado de termos, à partida, tão simples. Enfim, olha criaste aqui uma bela discussão! :)

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    8. Obrigado, ele há dias assim.

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  5. No fundo, queres dizer que continuamos ser preconceituosos uns com os outros. E mais do que isso, somos pouco tolerantes.

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    1. Mas isso não sei se alguma vez irá mudar. Adoramos criticar os outros, porque nós estamos sempre acima de qualquer suspeita.

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    2. Não me considero acima de qualquer suspeita.

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  6. meh, já comentei tantas vezes isto no blog. Gosto. acho bem, acho digno. Vejo pessoas com a minha idade com maiores preconceitos que os meus pais e os meus avôs, isto sem falar naqueles que acham que feminismo é a superioridade de um género sobre o outro, tipo uma competição pra ver quem é o maior do bairro, quando se trata do oposto.
    Quanto ás nossas senhoras da crucificação alheia, só tenho a dizer que não tenho paciência para bichas púdicas.

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    1. Sendo que da minha experiência, as púdicas tem muito que se lhe diga.

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  7. Olá...
    A discussão está acalorada, mas a pergunta que não quer calar é por que somos, muito mais vezes do que pensamos, o pior inimigo uns dos outros?

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    1. Essa é retórica...

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    2. Porque somos humanidade em geral, comunidade LGBT em geral? Não diria o pior inimigo, mas se estamos a falar da comunidade LGBT muitas não há apoio e deveria haver.

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  8. Eolo cada vez mais acho que há nichos de pessoas, com os seus ideais e preconceitos, a ideologia que muito veneram não passam de capas para poderem apontar o dedo aos outros. Ainfa não tinha lido o teu post quando escrevi o que escrevi no meu oceano, é um reforço de uma ideia que tenho há já algum tempo.

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    1. Na onda do faz o que eu digo, não faças o que eu faço... é, vejo muito.

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  9. Uma das coisas que eu sou anti-velhos tempos é o facto de terem sido machistas, olhemos para uma enciclopédia de personalidades e a grande maioria são homens, e as mulheres que se destacam seguem estes homens, seguem o academicismo que está enferrujado de machismo.
    Enfim eu adoro a música de Beethoven...
    E não basta ser mulher para ser feminista, nisto há uma questão de emoção nos valores, que é a coisa mais estúpida desta herança religiosa. Proximamente hei de falar acerca do meu ódio pelo passado.

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    1. Qualquer pessoa que acredite na igualdade de direitos e deveres para todos é feminista independentemente do género.

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